Eduardo Costa - Lua E Flor
Tu sabes, conheces melhor do que eu a velha história. Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim. E não dizemos nada. Na segunda noite, já não se escondem: pisam as flores, matam nosso cão, e não dizemos nada. Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz, e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E já não podemos dizer nada. Nos dias que correm a ninguém é dado repousar a cabeça alheia ao terror. Os humildes baixam a cerviz; e nós, que não temos pacto algum com os senhores do mundo, por temor nos calamos. No silêncio de meu quarto a ousadia me afogueia as faces e eu fantasio um levante; mas amanhã, diante do juiz, talvez meus lábios calem a verdade como um foco de germes capaz de me destruir.
Eduardo Costa - Lua e Flor
Em casa dos Valente, Jorge está na sala a fazer alongamentos enquanto se queixa das dores que tem nas costas. Catarina entra, com a roupa lavada, e vai para os quartos arrumá-la. Quando regressa à sala, a rapariga traz consigo uma aliança, que o pai tinha perdida numa gaveta. Jorge tenta pegar na aliança, mas Catarina afasta-se e confronta o pai, quer saber como é que ele tem a aliança da mãe se ela andava sempre com ela posta. Jorge fica comprometido. 041b061a72